Barney Swan sobreviveu dois meses no Pólo Sul só com energia renovável
Ao longo de 60 dias, um explorador percorreu a Antárctida com um trenó que tinha um sistema que lhe permitiu derreter gelo para ter água. Nessa expedição, iniciou também um desafio para limpar 326 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.
Já tinha passado mais de um mês desde que Barney Swan começou uma expedição ao Pólo Sul e tudo se estava a complicar. “Andar só no gelo deixa-nos loucos. Só temos a nossa respiração e silêncio. É difícil especialmente um mês depois. Não há banhos, não há boa comida, nada”, conta agora. Além disso, o seu pai – Robert Swan – tinha abandonado esta aventura a meio. Mas havia algo que movia Barney Swan e que o fez continuar: inspirar as pessoas no combate às alterações climáticas. Afinal, na expedição de dois meses ao Pólo Sul – que terminou em Janeiro deste ano –, o explorador e a sua equipa tornaram-se os primeiros a andar no Pólo Sul apenas com energia renovável.
Barney Swan, de 24 anos, nascido no Reino Unido e agora a viver nos Estados Unidos, não se considera bem um explorador. Aliás, para si, um explorador é já algo obsoleto. “Todos sabem onde os mapas terminam, sabe-se explorar os oceanos profundos ou ir ao espaço. Somos aventureiros não exploradores”, considera. “Só queria ter uma história que fosse relevante para falar de desenvolvimento sustentável.”
No fundo, Barney Swan está a seguir os passos do seu pai agora com 62 anos. Em 1989, Robert Swan tornou-se a primeira pessoa a andar no Pólo Sul e no Pólo Norte. “As suas expedições foram épicas: não havia GPS, rádio, nem rede de protecção”, lembra Barney Swan. Como tal, Robert Swan fundou a organização 2041 ClimateForce, inspirado no explorador Jacques Cousteau. O nome da fundação refere-se ao Tratado da Antárctida, que determinou que o continente só deverá ser usado para fins pacíficos e científicos até 2041. “Basicamente, a fundação que o meu pai fez serve para educar e inspirar as pessoas.”
Ao longo da sua vida, Barney Swan sempre ouviu histórias sobre as expedições do pai e sentiu o peso do seu legado. Há uns anos, quando num encontro da NASA (em São Francisco) lhes falaram do que estava a acontecer na Antárctida, nomeadamente do degelo, pai e filho sentiram que tinha chegado o momento de fazerem uma expedição em conjunto. “Queríamos [passar] uma mensagem focada na Antárctida e que as pessoas se sentissem inspiradas.” Juntamente com mais duas pessoas, prepararam uma expedição ao Pólo Sul só com energia renovável.
Como conseguiram? Levaram nos seus trenós uns painéis solares – fornecidos pela NASA –, que derretiam gelo e lhes permitia ter água. “Com estes ‘fornos’ de gelo movidos a energia solar podíamos fazer cerca de seis litros de água quente”, recorda Barney Swan. Além disso, tinham biocombustível produzido pela empresa Shell a partir de lascas de madeira obtidas na Índia. “Tudo isto combinado e tínhamos um sistema de energia diferente, que nos permitiu conseguir andar milhares de quilómetros na Antárctida [andaram cerca de mil quilómetros até chegarem ao Pólo Sul em Janeiro] durante 60 dias de forma sustentável.”
Barney Swan refere ainda que – apesar de não ter notado as consequências das alterações climáticas durante a expedição porque só a longo prazo se tornarão visíveis – o seu pai sentiu a neve mais mole do que nas expedições anteriores.
Um espelho na neve
Enquanto andava todos esses quilómetros, Barney Swan diz que teve momentos inesquecíveis. “[O melhor] foi quando vi cristais de gelo no ar. Como a latitude é tão baixa, só acontece assim lá. E vi um arco-íris à volta do Sol. Foi lindo! A certa altura, tinha os pés e a cara gelada e já nem sentia as mãos. Os meus dedos não se mexiam. Mas, ao mesmo tempo, foi a luz mais fantástica que vi. Foi um momento superpoderoso.”
Outro dos momentos mais poderosos foi a desistência do seu pai. “Chegámos a meio do caminho e o meu pai disse que não conseguia continuar. Depois de me deixar ficou tudo mais silencioso e difícil”, lembra. Também recorda como ficou surpreendido com o seu aspecto quando chegou à estação no Pólo Sul Amundsen-Scott, uma base de investigação dos EUA. “Há lá uma esfera que reflecte – parece um espelho – e bandeiras [dos países que ratificaram o Tratado da Antárctida]. Já não tomava banho há muito tempo e quando olhei [para a esfera] … Uau! Olhei para mim depois de dois meses e parecia que tinha envelhecido e perdido quilos [perdeu cerca de 30 quilos].”
Ao mesmo tempo pensou: “Estava numa situação de sobrevivência, mas tinha sido eu a escolher. E tinha um propósito.” Nessa mesma expedição, iniciou o Desafio ClimateForce, em que pretende limpar 326 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera até 2025. Esse objectivo insere-se dentro das ambições do Acordo de Paris, de 2015, que quer limitar a subida da temperatura até aos dois graus Celsius face aos níveis pré-industriais até ao final do século. “Queremos criar soluções inteligentes, usar redes de estudantes e famílias para reduzir o CO2, usando menos plástico ou considerando melhor o que se come [ou projectos a larga escala como reflorestação e limpeza dos oceanos]. Ou seja, coisas básicas que todos sabemos, mas que muitas pessoas não fazem.”
LER MAIS
2041, Antárctida reserva natural da humanidade?
Jacques Cousteau, o senhor dos oceanos, volta a mergulhar no cinema
Antárctida perdeu três biliões de toneladas de gelo desde 1992
Além disso, há aventuras como uma viagem ao Árctico no próximo ano. “Queremos que líderes, educadores e artistas venham falar de soluções e que vejam com os seus próprios olhos um urso polar ou um glaciar a cair no oceano. É um mecanismo que o meu pai usa há muito tempo [nos últimos 15 anos levou cerca de 3500 pessoas a expedições nas zonas polares] para envolver e inspirar as pessoas.” Aliás, Barney Swan esteve em Portugal na última sexta-feira para entregar o prémio de um concurso que o banco BNP Paribas desenvolveu internamente para levar os seus funcionários nessa expedição.
“Neste momento, o CO2 é o elefante na sala. E as pessoas deviam preocupar-se mais”, frisa Barney Swan. Para si, a solução está nas acções diárias e nos incentivos que empresas e governos possam criar para que essas acções se tornem possíveis. “Não devemos comer carne nalguns dias da semana”, diz, acrescentando que ele só come frango e peixe. “Também devemos reconsiderar os plásticos de uso único, o carro que conduzimos ou a origem da nossa roupa. No fundo, tornarmo-nos cidadãos habilitados e consumidores que façam ouvir a sua voz e que influenciem políticas e o uso de certos produtos.”
E resume: “O mais preocupante é as pessoas pensarem que o problema é dos outros e não colocarem a responsabilidade nelas próprias. Assusta-me a passividade das pessoas sobre este assunto.”