São-carlense constrói ‘micro-casa’ dentro de Kombi e viaja pelo Brasil
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Batizado de ‘Philomena Estradeira’, veículo possui cama, sofá e até uma pequena cozinha. Adaptações foram feitas apenas com a ajuda da internet – e muito trabalho
Que jovem nunca pensou em comprar uma Kombi e sair viajando pelas estradas do país e do mundo? Muitas vezes, o amadurecimento e as responsabilidades da vida adulta fazem com que tenhamos de deixar muitos sonhos de lado. O educador Fabu Dias, no entanto, resolveu ir na contramão dessa história e dar asas à própria imaginação. Com a ajuda da internet, o morador de São Carlos reformou um veículo até transformá-lo em uma espécie de casa móvel e viajante, também conhecida como motorhome.
Fabu Dias conta que a ideia de ter uma Kombi veio na adolescência, mas nunca foi levada a sério. “Não fui uma criança apaixonada por carros e minha família nunca viveu uma cultura automotiva, como é comum no Brasil. Até hoje não sou um bom entendedor de carros, não conheço os modelos nem as tecnologias, embora goste bastante de mecânica e trabalhos manuais no geral. Ainda assim, como muitos jovens, queria ter um carro que fosse capaz de levar todo mundo até a praia, junto com bagagem e meia dúzia de instrumentos musicais. De quebra, ainda ganharia um teto para ver o pôr do sol, o que nenhum outro carro pode te dar. Com o tempo, a ideia foi se perdendo e só voltou agora, um pouco mais velho”, lembrou.
Em meados de 2018, Fabu se preparava para um mochilão pela Bolívia. “Alguns dias antes da saída, fui a um encontro de Kombis chamado King Kombi na cidade de Barra Bonita. É um dos maiores encontros do assunto que existe no Brasil. Lá, fiquei fascinado pela variedade de construções e quantidade de pessoas fazendo a mesma coisa que eu pensava em fazer quando jovem. Parti para a Bolívia e atravessei o país todo pensando: na volta compro uma Kombi”, relatou.
Em agosto do mesmo ano, o educador finalmente encontraria o veículo que vinha buscando desde o início da juventude. “Eu já estava procurando uma Kombi parecida com essa fazia um bom tempo. O veículo – uma Kombi 2005, último modelo com “motor a ar” fabricado pela Volkswagen no mundo – era de um senhor que morava relativamente perto de minha casa e levava pessoas para a Igreja. Sempre foi muito bem cuidado. O antigo dono era bastante zeloso e a Kombi já tinha alguns itens que eu julgava necessário para o projeto”, lembrou.
De acordo com Fabu, a maioria das KombiHomes ganham um nome de batismo, geralmente no feminino. Por conta disso, ele escolheu o nome da avó da esposa, Philomena, como forma de homenagem. “A Dona Philomena viveu até os 106 anos e acabou virando nome de Kombi. Não sei se ela ia gostar”, brincou.
Reforma
Todo o processo de reforma da Kombi foi realizado na casa de Fabu com a ajuda da internet. “É uma oportunidade incrível de colocar em prática alguns conhecimentos e adquirir uma série de outros que vão aparecendo no meio do caminho. Hoje, o YouTube apresenta muitos tutoriais que ajudam na construção. Isso facilita e torna o conhecimento acessível para pessoas que, a princípio, não se julgam prontas para iniciar tal construção ou conversão. O acesso às informações sobre como construir esse tipo de carro foi muito simplificado com a popularização desses canais da internet. Isso ajudou muito em todo o processo de criação da Philomena, inclusive para escolher o modelo de Kombi que seria comprado”, contou.
Fabu revela que a Kombi Philomena vem passando por um processo de trabalhos há 9 meses ou “quase uma gestação”, como gosta de brincar o educador. Durante esse tempo, foi realizada uma série de adequações para transformar a Kombi Lotação em um pequeno motorhome.
A primeira parte foi retirar os bancos traseiros e repintar a Kombi. Depois, foi necessário fazer os isolamentos térmico e acústico, a forração, instalação de um banco-cama, construir os móveis, instalar um fogão, fazer a parte hidráulica para a pia, instalar placas de energia solar e baterias estacionárias, incluir luzes e muito mais.
Todo o processo foi fotografado e publicado em uma conta do Instagram dedicada exclusivamente ao veículo. “Hoje, a Philomena tem tudo o que um motorhome comum teria – menos o banheiro. Conta com móveis para colocar material de cozinha, um banco que se transforma em cama de casal, guarda roupas, pia com água pressurizada, fogão com forno e sistema de corrediças para cozinhar na parte externa, frigobar de 50 litros, rádio de comunicação, todo isolamento térmico e acústico, além de um sistema elétrico abastecido por energia solar que garante o fornecimento de energia para o motorhome, isolado do sistema do carro. Com isso conseguimos nos manter por muito tempo na estrada sem precisar de energia elétrica externa (tomada) para nada dentro da Philomena”, esclarece Fabu.
O educador conta que chegou a criar uma tabela para acompanhar os gastos, mas já abandonou a ideia. “Me perdi logo no segundo mês e acabei abandonando a ideia”, brincou.
Viagens
Na estrada, explica Fabu, a Kombi não costuma registrar altas velocidades. Pelo contrário: a ideia é curtir o momento, as paisagens e, principalmente, o ambiente dentro do qual se está viajando. “Sentar ao volante de um carro mais antigo e viajar por milhares de quilômetros a, no máximo, 80km/h sem itens de conforto e segurança, que já estamos acostumados a ver em qualquer carro moderno, tem seus desafios. As coisas mudam quando se viaja em uma Kombi. Nós mudamos, nossa relação com o tempo muda, nossas relações com os imprevistos também. Claro, estar levando sua casa é algo maravilhoso, e isso ajuda a transformar o modo como encaramos o viajar, o conhecer pessoas e lugares”, comenta.
Além disso, Fabu afirma ter se sentido acolhido e muito bem recepcionado durante as viagens por conta de estar dirigindo uma Kombi. “Nunca senti nada parecido. Existe uma memória afetiva do Brasileiro com esse carro, e isso ajuda. Em todos os lugares alguém que tem uma história para compartilhar e que envolve esse carro. Por décadas, foi praticamente a única van comercializada no país. A manutenção é muito simples e isso fez com que o carro se tornasse algo maior do que um simples automóvel na memória da população que teve contato com ele”, relatou o educador.
Ao volante da Philomena, o casal Fabu Dias e Viviane Carrasco já conheceu boa parte da Estrada Real, cruzando a Mantiqueira e terminando em Paraty, no Rio de Janeiro. Além disso, os dois também costumam frequentar encontros de viajantes que acontecem em campings próximos. A ideia é continuar viajando e conhecendo o país sem que, para isso, seja necessário sair de casa.
Isso não quer dizer que a trajetória seja sempre tranquila e calma. “As viagens são marcadas por pessoas, situações, perrengues e paisagens. Já cheguei a ter problemas mecânicos em Ubatuba e ser socorrido por amigos de São Carlos que, por mero capricho do universo, estavam próximos. A solução para o problema, no caso, foi uma simples fita veda rosca que me garantiu subir a famosa Serra de Taubaté e viajar mais 500 quilômetros naquele dia”, esclarece Fabu.
Menos de um ano depois de muito trabalho, o projeto da Kombi Philomena já está praticamente concluído. O próximo passo, por sua vez, já se encontra em andamento: conhecer lugares, pessoas e vivenciar novas histórias. “Nove meses depois da compra estamos aqui: Philomena 99% concluída. Ter uma pequena casa montada em um carro cheio de histórias é um sonho que se tornou realidade, acima de tudo uma oportunidade de aprender uma série de coisas bacanas, como conhecer lugares, culturas e pessoas incríveis”, finalizou.